15º Encontro

Sm e Salmos

30 • novembro • 2025

1 Samuel — Visão Geral

Visão geral

Primeiro dos Livros de Samuel, 1 Samuel narra a virada histórica que conduz Israel da época dos juízes à instituição da monarquia. A obra apresenta o nascimento e vocação de Samuel, a ascensão e queda de Saul — o rei pedido pelo povo — e o surgimento de Davi, o ungido segundo o coração de Deus. O livro revela que a verdadeira liderança nasce da obediência à Palavra divina e que a história da salvação é guiada por Deus mesmo quando os líderes humanos falham.

Dados essenciais :contentReference[oaicite:1]{index=1}

  • Língua original: Hebraico bíblico

  • Título: שְׁמוּאֵל (Shemu’el) – “Deus ouviu” (heb.); Βασιλειῶν Α (gr.); Regum I (lat.)

  • Coleção: Livros Históricos / Profetas Anteriores

  • Autoria/tradição: tradições ligadas a Samuel, Natã e Gade; redação final deuteronomista

  • Cenários: Ramá, Siló, Mispá, Guilgal, Gibeá, Belém, vale de Elá

  • Horizonte histórico: período c. 1120–1010 a.C., início da monarquia

Megatemas
Chamado profético; Obediência; Realeza divina; Liderança; Unção; Rejeição; Fidelidade de Deus.

Nomes de Deus: YHWH, Elohim, “Senhor dos Exércitos” (título revelado pela primeira vez em 1Sm).


Estrutura do conteúdo

I) Samuel: o último juiz e primeiro profeta (1Sm 1–7)
  • Nascimento milagroso: Deus ouve a súplica de Ana.

  • Vocação: Samuel escuta a voz divina e se torna profeta.

  • A Arca e os filisteus: juízo sobre a casa de Eli.

  • Libertação: Samuel conduz Israel à fidelidade.

II) Saul: o rei “pedido” (1Sm 8–15)
  • O povo deseja um rei: rejeição simbólica da realeza de Deus.

  • Unção e primeiros sucessos: Saul inicia bem sua missão.

  • Desobediência: Saul é rejeitado por não guardar a Palavra.

III) Davi: o escolhido (1Sm 16–31)
  • Unção de Davi: Deus vê o coração.

  • Davi e Golias: vitória da fé sobre a força.

  • Perseguição de Saul: ciúme e declínio espiritual.

  • Morte de Saul: fim trágico do primeiro rei.


Como ler com o Theophilus

  • Samuel como modelo de escuta: abertura total à Palavra.

  • Saul como alerta espiritual: o perigo da autossuficiência.

  • Davi como figura messiânica: humilde, perseguido e escolhido.

  • A realeza divina: Deus governa mesmo quando os homens falham.


Para aprofundar no encontro

  • Leituras: 1Sm 1–15.

  • Materiais: mapas; paralelos entre Samuel–Saul–Davi; textos patrísticos sobre liderança espiritual.

  • Objetivo: compreender como Deus conduz Israel ao futuro messiânico por meio da Palavra e da obediência.

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1Sm 15-27 e vários Salmos

Resumo

Resumo

DAVI – REI SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

Introdução

A figura de Davi é central na história da salvação. Pastor, guerreiro, poeta e rei, ele une a força humana à ternura de quem busca cumprir a vontade de Deus. Seu reinado marca o auge de Israel e inaugura de modo explícito a linhagem messiânica que culminará em Jesus Cristo. Em Davi, o poder é purificado pela fé, e o pecado transforma-se em arrependimento. Nele, a Bíblia mostra o que significa ser “homem segundo o coração de Deus”: não alguém sem falhas, mas alguém que se deixa conduzir, corrigir e restaurar pelo Senhor.

Contexto: instabilidade após a morte de Saul

Com a morte de Saul no monte Gelboé, Israel entra em um período de forte instabilidade político-social. As tribos se dividem: ao norte, dez tribos seguem Isbaal, filho de Saul (2Sm 2,8ss); ao sul, a tribo de Judá unge Davi como rei em Hebron (2Sm 2,4). Durante cerca de sete anos coexistem dois reinos rivais, marcados por conflitos entre a casa de Saul e a casa de Davi (2Sm 3,1), até o assassinato de Isbaal. Somente então as tribos do norte convidam Davi a reinar sobre todo o Israel (2Sm 5,1-5), formando o “Reino de Israel e Judá”, sinal de unidade entre norte e sul.

Essa história revela a relação entre política e teologia. O autor bíblico mostra um Deus que se compromete com a história humana, mesmo em meio a manipulações e pecados. Para além da leitura meramente política, o crente é chamado a reconhecer a mão de Deus conduzindo os acontecimentos até a plenitude em Cristo. A narrativa sublinha temas centrais da teologia bíblica: Deus escolhe o pequeno (o menor filho de Jessé, 1Sm 16,1-14), salva por meio do pequeno (Davi contra Golias, 1Sm 17), guia e protege o seu ungido, e reserva para si a vingança.

O pastor que se tornou rei

Davi aparece primeiro como pastor de ovelhas, simples e quase esquecido na casa de Jessé. Aos olhos humanos, seus irmãos pareciam mais adequados à realeza, mas Deus escolhe aquele que ninguém esperava. São Jerônimo recorda que Samuel, ao ver os filhos de Jessé, se engana um a um, até ouvir de Deus: “O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (1Sm 16,7). Nesse contraste, revela-se a fraqueza do julgamento humano e a surpresa da eleição divina.

Davi recebe três unções: primeiro, por Samuel em Belém (1Sm 16,13); depois, como rei de Judá em Hebron (2Sm 2,4); por fim, como rei de todo Israel (2Sm 5,3). Sua vocação é confirmada progressivamente, até atingir a plenitude do plano de Deus. Como rei de Israel unificado, seu primeiro grande gesto é conquistar a cidade de Jebus, dos jebuseus (2Sm 5,6-10). Situada entre norte e sul, Davi a transforma em capital neutra e símbolo de unidade: a “Cidade de Davi”, a futura Jerusalém, centro político e espiritual de Israel (2Sm 6).

Com habilidade política e militar, Davi consolida um Estado antes frágil, amplia as fronteiras e faz de Israel uma potência regional, vivendo um tempo de relativa paz, prosperidade e prestígio. Em sua história se vê refletido o mesmo movimento do povo de Israel: quedas, correção divina, arrependimento e nova restauração pela graça.

O pecado e o arrependimento

Embora profundamente religioso, Davi não é isento de quedas graves. O episódio com Betsabeia e o assassinato de Urias (2Sm 11) marca uma das páginas mais sombrias de sua vida. Confrontado pelo profeta Natã, Davi não se justifica: reconhece o próprio pecado e se humilha diante de Deus. Da sua dor nasce o Salmo 51 (50), uma das mais belas expressões bíblicas de contrição: “Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia… eu reconheço a minha iniquidade”.

Deus castiga o pecado, mas não retira sua misericórdia. Davi é perdoado, ainda que sofra as consequências de sua falta, e é de sua união com Betsabeia que nascerá Salomão, o filho da promessa (2Sm 12,24-25). Santo Agostinho explica que Deus, prevendo tanto o pecado quanto a penitência de Davi, pode dizer com verdade que encontrou em Davi um homem “segundo o seu coração”: não porque o pecado fosse conforme à vontade de Deus, mas porque a humildade, o coração contrito e a disposição de deixar-se perdoar são o que Deus realmente olha e não lhe imputa a culpa.

Davi, portanto, não é modelo de perfeição moral absoluta, mas de abertura à correção. Sua grandeza está em não permanecer na queda, mas voltar-se sempre ao Senhor. Por isso é lembrado como “homem segundo o coração de Deus” (1Sm 13,14): alguém que, mesmo ferido pelo pecado, deixa que Deus restaure o seu coração.

A linhagem messiânica

Quando Davi deseja construir um Templo para o Senhor (2Sm 7), recebe uma resposta surpreendente. Não será ele quem erguerá uma casa de pedra para Deus; ao contrário, Deus promete construir para Davi uma “casa” duradoura, isto é, uma dinastia: “O Senhor te fará uma casa, e o teu trono será firme para sempre” (cf. 2Sm 7,11-16). Esta é a Aliança Davídica, momento-chave da revelação, em que a promessa feita a Abraão se aprofunda: agora, a bênção para todas as nações passa pela descendência real de Davi.

O trono de Davi torna-se, assim, símbolo da esperança messiânica. Apesar das infidelidades dos reis que o sucederam, Deus permanece fiel. A promessa não está condicionada à perfeição de cada descendente, mas à fidelidade do próprio Deus ao seu plano de amor. A monarquia davídica se torna fio condutor da história de Israel, apontando para um Rei definitivo e eterno.

Os profetas retomam esta esperança, especialmente Isaías ao falar do “rebento do tronco de Jessé” (Is 11,1). Esse rebento, descendente de Davi, é reconhecido na plenitude dos tempos em Jesus Cristo, o “Filho de Davi”. Nele, a realeza de Davi encontra sua realização plena: um reino de justiça, paz e misericórdia, que não terá fim.

Síntese espiritual

Davi reúne em si contrastes profundos: é guerreiro e poeta, rei e servo, pecador e penitente. Sua vida espelha a condição humana diante de Deus – capaz de grandes feitos e, ao mesmo tempo, vulnerável à tentação. No pastor que toca harpa, no rei que dança diante da Arca, e no homem que chora o próprio pecado, o povo de Deus reconhece a dinâmica da verdadeira conversão: um coração que sabe amar, cair, levantar-se e pedir perdão.

Ele unifica o povo, consagra Jerusalém, prepara o templo, inspira os salmos e oferece à humanidade um modelo de realeza fundada na fé e na justiça. Sua memória se torna arquétipo do governante segundo o coração divino e elo entre a Antiga e a Nova Aliança. Em Davi, a história bíblica mostra que a santidade não consiste em nunca errar, mas em deixar que Deus transforme queda em caminho de graça e que o coração humano se torne morada da misericórdia.

“O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração.” (1Sm 16,7)

CIC 2578-2580: a oração de Davi

Resumo

A oração do povo de Deus florescerá à sombra da Casa de Deus, da Arca da Aliança e, mais tarde, do Templo. São principalmente os guias do povo — os pastores e os profetas — que o ensinarão a orar. Samuel, menino, teve de aprender de sua mãe Ana como “se portar diante do Senhor”, e do sacerdote Eli, como ouvir Sua Palavra: “Fala, Senhor, que teu servo ouve” (1Sm 3,9-10). Mais tarde, também ele conhecerá o preço e o peso da intercessão: “Quanto a mim, longe de mim esteja que eu venha a pecar contra o Senhor, deixando de orar por vós e de vos mostrar o bem e o reto caminho” (1Sm 12,23).

Davi é por excelência o rei “segundo o coração de Deus”, o pastor que ora por seu povo e em seu nome, aquele cuja submissão à vontade de Deus, cujo louvor e arrependimento serão o modelo da oração do povo. Como ungido de Deus, sua oração é adesão fiel à promessa divina, confiança cheia de amor e alegria naquele que é o único Rei e Senhor. Nos Salmos, Davi, inspirado pelo Espírito Santo, é o primeiro profeta da oração judaica e cristã. A oração de Cristo, verdadeiro Messias e filho de Davi, revelará e realizará o sentido dessa oração.

O Templo de Jerusalém, a casa de oração que Davi queria construir, será a obra de seu filho Salomão. A oração da Dedicação do Templo se apoia na Promessa de Deus e em sua Aliança, na presença ativa de seu nome entre o povo e a lembrança dos grandes feitos do Êxodo. O rei levanta então as mãos ao céu e suplica ao Senhor por si, por todo o povo, pelas gerações futuras, pelo perdão dos pecados, pelas necessidades de cada dia, para que todas as nações saibam que Ele é o único Deus e para que o coração de seu povo seja inteiramente dele.

Para refletir

  • Como posso aprender, como Samuel, a escutar a voz de Deus na minha vida diária?
  • De que maneira a oração de Davi, cheia de confiança e louvor, pode inspirar minha própria oração?
  • Reconheço a importância da intercessão pelos outros, seguindo o exemplo de Samuel e Davi?
  • Como vejo o Templo (e hoje, a Igreja) como casa de oração para todos os povos?

Para meditar na Palavra

  • 1 Samuel 3,9-10: “Fala, Senhor, que teu servo ouve.”
  • 1 Samuel 12,23: “Longe de mim esteja que eu venha a pecar contra o Senhor, deixando de orar por vós.”
  • 2 Samuel 7,18-29: A oração de Davi diante da promessa de Deus.
  • 1 Reis 8,22-53: A oração de Salomão na dedicação do Templo.
  • Salmo 51: O grande salmo penitencial de Davi.

Oração

Senhor Deus, que ensinaste teu povo a rezar por meio dos pastores e profetas, concede-me um coração atento à tua Palavra, como o de Samuel. Dá-me a confiança e o amor de Davi, para que minha oração seja sempre fiel às tuas promessas. Que eu aprenda a interceder pelos outros com perseverança e a louvar-te em todas as circunstâncias. Faz de mim, Senhor, alguém que busca tua presença e deseja que meu coração seja inteiramente teu. Amém.

Baseado no Catecismo da Igreja Católica, nºs 2578, 2579 e 2580. Theophilus — “amigos de Deus, reunidos na Palavra”.

ARTE: Escultura "Davi"

Resumo

O Davi de Michelangelo

Contexto artístico: Michelangelo Buonarroti (1475–1564), um dos grandes nomes do Renascimento italiano, encontrou na escultura sua forma mais profunda de expressão. Entre 1501 e 1504, ele cria o Davi, uma de suas obras máximas ao lado da Pietà. A escultura nasce do ideal renascentista que une beleza do corpo, profundidade interior e confiança no potencial humano, transformando o famoso herói bíblico em um símbolo da dignidade e grandeza do homem.

O herói bíblico sob um olhar renascentista

Ao representar Davi, Michelangelo faz uma escolha original: em vez de mostrar a batalha ou a vitória sobre Golias, ele retrata o instante anterior ao combate. É o momento de concentração máxima, em que o jovem avalia seu inimigo e decide agir. Essa opção revela o espírito do Renascimento, que valoriza a razão, o intelecto e a liberdade interior. A tensão aparece em detalhes sutis — sobrancelhas contraídas, narinas dilatadas, músculos do pescoço em alerta, veias salientes e pupilas esculpidas com precisão — de modo que o corpo parece respirar dentro do mármore.

O bloco abandonado que virou obra-prima

O Davi foi talhado em um enorme bloco de mármore de Carrara, com mais de 5 metros de altura, trazido a Florença décadas antes. Esse bloco ficou cerca de 40 anos abandonado, conhecido como “o gigante”, após dois escultores fracassarem na tentativa de trabalhá-lo. Quando o projeto de decoração da Catedral (Duomo) foi retomado, vários artistas foram cogitados, inclusive Leonardo da Vinci, mas em 1501 a tarefa foi confiada a Michelangelo, então com apenas 26 anos. Isolado com a pedra durante aproximadamente três anos, ele transformou um material considerado problemático em uma das esculturas mais célebres da história.

Olhar artístico sobre a escultura

O Davi é visto como ápice da escultura renascentista por alguns elementos centrais. Primeiro, a maestria anatômica: cada músculo, tendão e veia está esculpido de forma a criar tensão interior, sem detalhes gratuitos; tudo comunica algo do estado de espírito do herói. Em segundo lugar, as proporções intencionais: mãos e cabeça ligeiramente maiores destacam a coragem e a inteligência de Davi e também corrigem a visão à distância, já que a obra foi pensada para espaço público. Por fim, a presença emocional: em vez de narrar uma ação, a escultura encarna um estado de alma — a calma concentrada antes do risco, a humanidade em potência prestes a agir.

Curiosidades e trajetória da obra

Alguns dados ajudam a compreender melhor o impacto do Davi. Michelangelo o inicia aos 26 anos, marcando sua primeira grande estátua de nu frontal integral desde a Antiguidade, algo ousado para a época. Originalmente planejado para o alto da Catedral de Florença, foi julgado tão impressionante que foi colocado diante do Palazzo della Signoria, como símbolo da república florentina. Em 1873, para preservação, a estátua foi transferida para a Galleria dell’Accademia. Pesquisas indicam ainda que a superfície pode ter recebido cores sutis em sua origem, o que acrescentaria outra dimensão de realismo à obra.

Mensagem e dimensão simbólica

O Davi de Michelangelo é mais do que um feito técnico; é uma declaração sobre a grandeza humana. A escultura mostra que a verdadeira força nasce antes da ação visível, no silêncio da decisão interior. Assim como Michelangelo “liberta” a figura escondida no bloco chamado “o gigante”, a obra sugere que o ser humano pode superar o aparentemente impossível quando enxerga, com fé e coragem, a forma escondida nas dificuldades. Diante do Davi, a frase do artista — de que a obra já estava dentro da pedra, esperando para ser revelada — se torna quase palpável: a figura parece prestes a mover-se, a falar. Parla: fala da confiança no homem, da beleza da criação e do valor infinito de cada vida em seu momento de escolha.

Texto: Euclides Varella Filho
Theophilus – Grupo de Estudos Bíblicos Católico


1 Samuel – Semana 16

1 Samuel – Semana 16

Nesta 16ª semana, a Escritura nos faz atravessar a noite de Gelboé até o amanhecer de Hebron.

Exilado entre filisteus, Davi atravessa o caminho estreito da alma. Longe de Saul e distante de Judá, o coração inquieto aprende o segredo do justo: orar, lutar, suportar e esperar. Ali, na terra que não é sua, o ungido descobre que Deus prepara o rei antes de lhe entregar o reino (cf. 1Sm 27,12; Sl 17; Sl 35; Sl 54; Sl 63).

À beira de uma crise irreversível, Saul sobe à noite, disfarçado, rumo a Endor. Ali, ele adentra a noite que decidiria seu fim — a travessia silenciosa de um rei derrotado antes mesmo da batalha. Tateando entre sombras, Saul escuta de Endor aquilo que o coração já sabia: “O Senhor se retirou de ti”, mostrando ao coração do antigo ungido que o amanhã não lhe pertence mais. Assim, a noite o leva — e o leva a Gelboé (cf. 1Sm 28).

Em Siceleg, na perda e no recomeço (cf. 1Sm 29–30), Davi ergue o olhar como quem diz: “A ti levanto meus olhos” (cf. Sl 123), sabendo que só o Altíssimo sustenta o passo quando tudo ao redor ameaça ruir. Entre cinzas e silêncio, a alma encontra onde firmar-se — porque o Senhor reanima o seu ungido (cf. 1Sm 30,6). No alto de Gelboé, porém, cai a casa de Saul. Jônatas, escudo leal, é cortado; Saul, ferido, entrega-se ao fio da própria espada. E assim termina um rei que não perdeu o trono em um dia, mas ao longo de uma vida (cf. 1Sm 31,1–6).

Com a espada de Saul fincada no chão de Gelboé, abre-se o silêncio onde Deus prepara um novo começo — um silêncio que exige não apenas outro rei, mas outro coração capaz de ouvi-Lo. E, ao cruzar esse silêncio, Davi não se glorifica, mas lamenta. Então, depois do luto, Davi pergunta ao Senhor — como quem não dá um passo sem luz. E a resposta o conduz a Hebron (cf. 2Sm 2,1). É ali, entre pedras antigas e memórias de patriarcas, que os homens de Judá o ungiram rei (cf. 2Sm 2,4).

Mas o caminho do reino não se abre de uma vez. A casa de Saul resiste; a casa de Davi espera. Abner levanta Isboset no trono; Joab vigia as fronteiras; e o reino se parte como água batendo em duas rochas (cf. 2Sm 2,8–10). Há duelo, há sangue, há longos dias sem resposta. No entanto, “Davi ia crescendo em força, e a casa de Saul ia decaindo” (cf. 2Sm 3,1). E nesse caminho áspero, Davi chorará mais do que conquistará (cf. 2Sm 3,31–39) e, diante da queda traiçoeira de Isboset (cf. 2Sm 4,5–7), recusa coroas manchadas (cf. 2Sm 4,9–12). Não apressa o trono — aguarda o tempo de Deus. E às portas de um novo tempo, entre guerras, medos e incertezas, o povo aprende a ler a própria história, relembrando raízes antigas — de Adão a Davi — a memória de Israel se erguerá como tronco firme após tempestade. E assim, do luto ao óleo, Davi aprende que o trono não se conquista: recebe-se — no tempo, no modo e na fidelidade de Deus.

Eis, aí, o Deus da reconstrução.

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Exemplo: Encontro de Domingo - Gênesis 38-50