1 Samuel – Semana 15
Nesta 15ª semana, a Escritura nos conduz do homem segundo o coração humano ao homem segundo o coração de Deus.
Cercado por guerras Saul e preso ao próprio medo (cf. 1Sm 14,52), Saul falhará na obediência que sustenta a justiça divina. Em Amalec, a desobediência de Saul encerra um ciclo: o rei que deveria ouvir prefere oferecer, e Samuel ergue a palavra que corta mais fundo que espada — “melhor é obedecer do que sacrificar”. Na queda do primeiro rei, Deus abre espaço para um coração oculto em Belém — sensível ao Espírito, não à aparência (cf. 1Sm 15–16). É o tempo em que a alma do futuro rei começará a aprender o clamor dos justos:
“Julgai-me, Senhor, segundo a minha justiça e segundo a integridade que há em mim.”
cf. Sl 7,9b
Assim o Altíssimo molda o coração que Ele próprio escolheu.
Enquanto o Espírito age em Belém, o vale de Elá se tornará palco onde a coragem perdida renascerá nas mãos de um jovem pastor: Davi, pequeno aos olhos humanos, enfrentará o gigante e despertará, com sua vitória, a inveja oculta no palácio. O cântico que deveria celebrar a libertação se tornará sinal de conflito, mas o filho de Jessé sustentará a confiança dos humildes:
“O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem temerei?”
cf. Sl 27,1
Assim se iniciará a jornada daquele que será rei segundo o coração de Deus — um caminho guiado pelo Altíssimo desde o olhar firme de quem ainda não conhecia o medo (cf. 1Sm 17).
Tão logo o pó da batalha repousa sobre o vale de Elá, o nome de Davi começará a atravessar Israel como um vento que anuncia mudança. Da planície à corte, sua vitória deslocará destinos: inicia-se a queda de um rei que teme perder o que já não lhe pertence e a ascensão de um jovem que nunca desejou erguer-se (cf. 1Sm 18). Quando o palácio se tenciona entre o que Deus concede e o que o homem se apega a reter, brota, no íntimo do ungido, a súplica que sustém os que confiam:
“Em vossas mãos entrego o meu espírito; vós me resgatastes, Senhor, Deus fiel.”
cf. Sl 31,6
Entre os escombros da ruptura, nasce um pacto que nenhum trono governa: Jônatas apenas reconhece em Davi o que o Altíssimo já havia selado. Inicia-se então o tempo das lanças, dos acordos ocultos e da fuga sustentada pela fidelidade (cf. 1Sm 19–20). E, passo após passo, a alma do filho de Jessé entra no caminho dos perseguidos, onde ressoa a promessa:
“O Senhor está perto dos corações quebrantados e salva os de espírito abatido.”
cf. Sl 34,19
A marcha de Davi começa em Nob, onde o pão sagrado e a espada recebida sustentarão aquele que caminha entregue ao mistério do próprio destino. Em Gabaá, a perseguição ganhará forma: Saul avança, e o jovem fugitivo aprende a mover-se entre astúcia e silêncio. A terra então geme sob a injustiça: Nob é ferida pelo rei, mas a fé continua a guardar a vida de Davi (cf. 1Sm 21–22). Diante da violência que prospera, o perseguido erguerá sua voz e denunciará o poder que se gloria no mal, lembrando que a misericórdia de Deus não se desfaz (cf. Sl 52,3).
No deserto de Adolam, homens se juntarão a ele, e o exílio se transformará em comunidade, enquanto o rei o persegue incansavelmente (cf. 1Sm 23). E nas cavernas ressoará a oração dos escondidos:
“Tem piedade de mim, ó Deus, pois em vós se abriga a minha alma… No esconderijo de vossas asas busco refúgio.”
cf. Sl 56,2
Quando Saul é entregue nas mãos de Davi, a vingança parece ao alcance, mas o fugitivo recusa ferir o ungido do Senhor — lembrando que o trono é graça, não conquista (cf. 1Sm 24). E assim, ao escolher a paz em meio às flechas, seu coração ecoa o lamento antigo:
“Ai de mim, que habito em Masec e nas tendas de Cedar… Sou pela paz, mas quando falo, eles são pela guerra.”
cf. Sl 120,5-6
No curso dos destinos, quando a sombra de Saul cede à misericórdia de Davi, surgem novas provas: o confronto de Nabal e a coragem de Abigail mostrarão que a justiça e a prudência são forças silenciosas guiadas pelo Altíssimo (cf. 1Sm 25). E Davi aprenderá que só o Senhor firma o caminho contra a violência humana:
“Guardai-me dos que tramam o mal no coração.”
cf. Sl 140,2-3
Mesmo quando a paz pousa sobre os desertos, a perseguição insiste em seguir seus passos. Saul avançará sob o peso do ciúme, sem perceber a mão do Altíssimo que resguarda Davi. Na noite velada, o ungido demonstrará que a misericórdia é a verdadeira coroa (cf. 1Sm 26). E ali, na escuridão orante, sobe o clamor dos fiéis:
“Com minha voz clamo ao Senhor… derramo diante dele minha queixa.”
cf. Sl 142,2-3
Perseguido sem trégua, Davi cruza fronteiras e encontra em Ziclague um refúgio moldado pela astúcia e pela graça do Altíssimo. Ali, sua diplomacia sustenta o que a espada não resolve: protege seu povo, guarda sua honra e mantém firme a lealdade dos seus. Entre estratégia e exílio, Aquis confia, enquanto a providência conduz cada passo (cf. 1Sm 27). E, como quem atravessa a noite com o coração aceso, Davi clama:
“Senhor, a ti eu clamo; vem depressa em meu auxílio.”
cf. Sl 141,1
E assim, entre clamor e espera, o Altíssimo abre o caminho adiante.
Eis, aí, o Deus da Unção!


















































