14º Encontro

Jz 16-21; Rt; 1Sm 1-14

23 • novembro • 2025

Livro de Rute — Visão Geral

Visão geral

Situado “no tempo dos juízes”, o Livro de Rute ilumina um período sombrio com uma narrativa de fidelidade, ternura e providência. Em meio a um Israel espiritualmente desordenado, três personagens — Noemi, Rute e Booz — revelam que a retidão cotidiana e o amor fiel são capazes de transformar destinos e preparar silenciosamente o caminho do Messias. Rute, mulher estrangeira, abraça o Deus de Israel e torna-se elo indispensável para a linhagem de Davi, mostrando que a graça divina opera através de gestos simples e corações íntegros.

Dados essenciais :contentReference[oaicite:0]{index=0}

  • Língua original: Hebraico bíblico

  • Título: רוּת (Rut) – “Rute” (heb.); Ῥούθ (gr.); Ruth (lat.)

  • Coleção: Escritos (Ketuvim) — Cinco Rolos (Megillot)

  • Autoria/tradição: atribuída pela tradição a Samuel; redação provável na época davídica

  • Cenários: Belém e os campos de Moab

  • Horizonte histórico: tempo dos juízes, antes da monarquia

Megatemas
Fidelidade; Providência; Retidão moral; Bondade; Resgate; Genealogia messiânica.

Nomes de Deus: YHWH; Shaddai.


Estrutura do conteúdo

I) Caminho de dor e decisão (Rt 1)
  • Luto e retorno: Noemi perde marido e filhos.

  • Fidelidade de Rute: “Teu povo será o meu povo; teu Deus será o meu Deus”.

II) A colheita providencial (Rt 2)
  • Encontro com Booz: generosidade e proteção à estrangeira.

  • Reconhecimento da virtude de Rute: reputação e honra.

III) Noite na eira (Rt 3)
  • Pedido de resgate: Rute se coloca sob as “asas” de Booz.

  • Dignidade e discernimento: Booz promete agir conforme a lei.

IV) O casamento e a linhagem (Rt 4)
  • Booz assume o papel de redentor: união legitimada pelos anciãos.

  • Nascimento de Obed: avô de Davi; inserção na história messiânica.


Como ler com o Theophilus

  • A providência silenciosa: Deus age nos pequenos gestos.

  • Booz como figura de Cristo: o Redentor que acolhe e protege.

  • Rute como a Igreja: estrangeira chamada e integrada ao povo santo.

  • Fidelidade concreta: amor que gera vida e continua a história da salvação.


Para aprofundar no encontro

  • Leituras: Rt 1–4.

  • Materiais: genealogias, comentários patrísticos sobre Rute e Booz.

  • Objetivo: ver como Deus transforma a história a partir da fidelidade humilde.

1 Samuel — Visão Geral

Visão geral

Primeiro dos Livros de Samuel, 1 Samuel narra a virada histórica que conduz Israel da época dos juízes à instituição da monarquia. A obra apresenta o nascimento e vocação de Samuel, a ascensão e queda de Saul — o rei pedido pelo povo — e o surgimento de Davi, o ungido segundo o coração de Deus. O livro revela que a verdadeira liderança nasce da obediência à Palavra divina e que a história da salvação é guiada por Deus mesmo quando os líderes humanos falham.

Dados essenciais :contentReference[oaicite:1]{index=1}

  • Língua original: Hebraico bíblico

  • Título: שְׁמוּאֵל (Shemu’el) – “Deus ouviu” (heb.); Βασιλειῶν Α (gr.); Regum I (lat.)

  • Coleção: Livros Históricos / Profetas Anteriores

  • Autoria/tradição: tradições ligadas a Samuel, Natã e Gade; redação final deuteronomista

  • Cenários: Ramá, Siló, Mispá, Guilgal, Gibeá, Belém, vale de Elá

  • Horizonte histórico: período c. 1120–1010 a.C., início da monarquia

Megatemas
Chamado profético; Obediência; Realeza divina; Liderança; Unção; Rejeição; Fidelidade de Deus.

Nomes de Deus: YHWH, Elohim, “Senhor dos Exércitos” (título revelado pela primeira vez em 1Sm).


Estrutura do conteúdo

I) Samuel: o último juiz e primeiro profeta (1Sm 1–7)
  • Nascimento milagroso: Deus ouve a súplica de Ana.

  • Vocação: Samuel escuta a voz divina e se torna profeta.

  • A Arca e os filisteus: juízo sobre a casa de Eli.

  • Libertação: Samuel conduz Israel à fidelidade.

II) Saul: o rei “pedido” (1Sm 8–15)
  • O povo deseja um rei: rejeição simbólica da realeza de Deus.

  • Unção e primeiros sucessos: Saul inicia bem sua missão.

  • Desobediência: Saul é rejeitado por não guardar a Palavra.

III) Davi: o escolhido (1Sm 16–31)
  • Unção de Davi: Deus vê o coração.

  • Davi e Golias: vitória da fé sobre a força.

  • Perseguição de Saul: ciúme e declínio espiritual.

  • Morte de Saul: fim trágico do primeiro rei.


Como ler com o Theophilus

  • Samuel como modelo de escuta: abertura total à Palavra.

  • Saul como alerta espiritual: o perigo da autossuficiência.

  • Davi como figura messiânica: humilde, perseguido e escolhido.

  • A realeza divina: Deus governa mesmo quando os homens falham.


Para aprofundar no encontro

  • Leituras: 1Sm 1–15.

  • Materiais: mapas; paralelos entre Samuel–Saul–Davi; textos patrísticos sobre liderança espiritual.

  • Objetivo: compreender como Deus conduz Israel ao futuro messiânico por meio da Palavra e da obediência.

Play Video

Jz 16-21; Rt; 1Sm 1-14

Resumo

1 Samuel 1–15

1 Samuel inaugura a transição decisiva de Israel: do período dos juízes para o nascimento da monarquia. O livro apresenta Samuel como último juiz e primeiro grande profeta, Saul como o rei escolhido e depois rejeitado, e prepara o cenário para a entrada de Davi na história. Sua mensagem central revela que a verdadeira autoridade nasce da obediência à Palavra de Deus, não da força humana. :contentReference[oaicite:0]{index=0}

Prenotanda

Escrito em hebraico, 1 Samuel é chamado na Septuaginta de “Primeiro Livro dos Reinos” e na Vulgata de “Primeiro dos Reis”. Narra os acontecimentos de cerca de 1120 a 1010 a.C., envolvendo Silo, Ramá, Guilgal e Gibeá. A redação final reúne tradições proféticas e deuteronomistas. :contentReference[oaicite:1]{index=1}

Estrutura

  • 1Sm 1–7: A infância e missão de Samuel; queda da casa de Eli; captura e devolução da Arca.
  • 1Sm 8–15: Instituição da monarquia; unção de Saul; suas vitórias iniciais e, depois, a sua rejeição por desobediência.
  • 1Sm 16–31: (fora deste arquivo) Ascensão de Davi e queda final de Saul.

Megatemas

A narrativa apresenta a soberania de Deus sobre a história: Ele levanta líderes, corrige infiéis e escolhe “segundo o coração”. Samuel encarna a liderança obediente; Saul, a fragilidade do orgulho; e Davi surge como promessa de uma realeza fiel. A fidelidade divina sustenta toda a trajetória. :contentReference[oaicite:2]{index=2}

I. Infância de Samuel (1Sm 1–7)

A história começa com a súplica de Ana e o nascimento de Samuel, entregue ao serviço em Silo. O cântico de Ana ecoará no Magnificat. A casa de Eli se corrompe, e Deus anuncia juízo. A Arca é capturada pelos filisteus, causando morte e desastre, mas a presença divina castiga os inimigos e força sua devolução. Samuel então lidera Israel à conversão e ao livramento. :contentReference[oaicite:3]{index=3}

II. Samuel e Saul (1Sm 8–15)

O povo pede um rei “como as outras nações”. Deus permite, advertindo sobre as exigências da realeza. Saul é escolhido e ungido, confirmado por sinais proféticos e pela vitória sobre os amonitas. No entanto, sua desobediência — primeiro no sacrifício indevido, depois na guerra contra Amalec — leva à declaração divina de rejeição: “A obediência vale mais do que o sacrifício.” Samuel se afasta, e a história prepara o surgimento de Davi. :contentReference[oaicite:4]{index=4}


Rute

Rute é um livro de beleza simples e profunda. Ambientado nos dias turbulentos dos juízes, ele revela como a fidelidade cotidiana, mesmo em tempos de decadência, torna-se instrumento da providência divina. Uma estrangeira moabita, humilde e virtuosa, torna-se parte da linhagem de Davi — e, portanto, de Cristo. :contentReference[oaicite:5]{index=5}

Introdução e Prenotanda

A história ocorre entre Belém e os campos de Moab. Escrita em hebraico, é considerada histórica e sapiencial, e integra os “Cinco Rolos” lidos em festas litúrgicas judaicas. A tradição atribui a autoria a Samuel. O contexto é o colapso moral de Israel, mas três personagens — Rute, Noemi e Booz — permanecem fiéis. :contentReference[oaicite:6]{index=6}

Estrutura

  • Rt 1: Fuga para Moab, morte dos homens da família e retorno de Noemi com Rute.
  • Rt 2: Rute nos campos de Booz, que reconhece sua virtude.
  • Rt 3: A proposta de casamento segundo o levirato.
  • Rt 4: Booz exerce o direito de resgate; nasce Obed, avô de Davi.

Megatemas

A fidelidade de Rute (“Teu povo será o meu povo”), a bondade de Booz, a integridade moral, a proteção oferecida pelo redentor e, por fim, a prosperidade dada por Deus. A história conduz da morte à vida: da tragédia inicial ao nascimento que prepara a linhagem messiânica. :contentReference[oaicite:7]{index=7}

Elementos Teológicos

Rute é figura da Igreja: estrangeira acolhida pela graça. Sua união com Booz prefigura Cristo, o verdadeiro Redentor. A genealogia final — que inclui Tamar, Rute e, no futuro, Maria — manifesta o universalismo da salvação e a condução silenciosa de Deus através da história. Como diz Santo Ambrósio: “O Senhor quis nascer de uma linha que incluía os gentios.” :contentReference[oaicite:8]{index=8}

Saul, o primeiro Rei de Israel

Resumo

SAUL – O PRIMEIRO REI DE ISRAEL

Introdução

A instituição da monarquia marcou uma virada decisiva na história do povo de Deus. Até então, o Senhor reinava por meio dos juízes e profetas, mas o desejo de “ter um rei como as outras nações” (1Sm 8,5) levou à escolha de Saul. Seu reinado inaugura uma nova etapa da história sagrada, repleta de promessas e tensões entre a vontade divina e as ambições humanas. Sua figura, ao mesmo tempo grandiosa e trágica, revela os riscos do poder quando não está enraizado na obediência a Deus, preparando o caminho para a realeza davídica e, por fim, para Cristo — o verdadeiro Rei segundo o coração do Pai.

O pedido de um rei

Nos capítulos 8–12 de 1Samuel, os anciãos de Israel pedem a Samuel: “Constitui-nos um rei para que nos governe” (1Sm 8,5). O povo desejava uma liderança semelhante à dos povos vizinhos, buscando segurança militar e estabilidade política. Contudo, por trás desse pedido estava uma tentação espiritual: substituir a confiança em Deus pelo poder humano. A monarquia nasceu, portanto, não como ideal teológico, mas como concessão divina à fraqueza humana.

Quem era Saul?

Saul, da tribo de Benjamim (1Sm 9,1-2), era alto, valente e de aparência nobre. Reuniu qualidades que pareciam perfeitas aos olhos humanos: coragem, prestígio e liderança natural. Seu reinado, porém, revelou-se frágil e desorganizado. Mais chefe guerreiro do que estadista, obteve vitórias contra amonitas e filisteus, mas não estruturou um governo sólido. Faltava-lhe a obediência interior à vontade de Deus.

O ponto decisivo de sua queda foi a desobediência. Saul ofereceu sacrifícios que cabiam apenas ao sacerdote (1Sm 13,9-10) e poupou os despojos de guerra contra a ordem do Senhor (1Sm 15). Samuel o repreendeu com palavras severas: “Porque rejeitaste a palavra do Senhor, Ele te rejeitou como rei” (1Sm 15,26). Sua rebeldia simboliza o perigo de agir com aparência de piedade, mas sem escuta da Palavra.

Entre a fidelidade e a vaidade

O contraste entre Saul e Davi marca a narrativa. Enquanto Davi é fiel e humilde, Saul se deixa consumir pela inveja e pelo ciúme. Ao ver a fama do jovem guerreiro crescer, tenta eliminá-lo, transformando a admiração em perseguição. Davi, porém, respeita o “ungido do Senhor” e não o toca, mostrando maturidade espiritual.

Saul representa o líder que começa ungido, mas se perde na vaidade. Substitui a escuta por justificativas, a obediência por orgulho. Sua história é a do homem que, tendo sido escolhido, não persevera na graça. Como ensina Tertuliano: “Ninguém é cristão a não ser aquele que persevera até o fim.”

O fim e a lição espiritual

Abandonado pela presença divina, Saul busca respostas entre os mortos, consultando a necromante de Endor (1Sm 28). Derrotado pelos filisteus no monte Gelboé, vê seus filhos morrerem e, tomado pelo desespero, lança-se sobre a própria espada (1Sm 31,4). Sua morte encerra o ciclo de uma realeza fundada na força humana e abre espaço para o reinado de Davi, fundamentado na fidelidade a Deus.

Significado teológico

O reinado de Saul possui valor pedagógico na história da salvação. Ele recorda que o poder sem submissão à vontade divina conduz à ruína. Saul é advertência e espelho: mostra que os dons de Deus podem ser perdidos quando a vaidade substitui a obediência. Seu trono ruído prepara o caminho para Davi, o pastor que governará com coração fiel e apontará para Cristo, o Rei que reina servindo.

“Porque rejeitaste a palavra do Senhor, Ele te rejeitou como rei.” (1Sm 15,26)

CIC 62 e 64: Deus foi formando o Povo de Deus

Resumo

Ao longo da história da salvação, Deus foi formando um povo para si. Depois dos patriarcas, Ele libertou Israel da escravidão do Egito, firmou com o povo a Aliança no Sinai e lhe deu, por meio de Moisés, a sua Lei. Essa Lei não era apenas um conjunto de mandamentos, mas o sinal de uma relação viva: Deus desejava ser reconhecido e servido como o único Senhor, o Deus verdadeiro, Pai providente e justo. Assim, Israel foi educado na fé e chamado a esperar o Salvador prometido, Aquele que restauraria plenamente a comunhão perdida pelo pecado.

Por meio dos profetas, Deus continuou a moldar o coração do seu povo, despertando nele a esperança de uma Aliança nova e eterna, que não se gravaria em tábuas de pedra, mas nos corações. Essa promessa, aberta a todos os povos, revelava uma salvação que ultrapassaria os limites de Israel e chegaria a toda a humanidade. Os profetas falavam de uma purificação interior, de um povo renovado pela graça e guiado pelo Espírito do Senhor.

Os pobres e humildes tornaram-se os guardiões dessa esperança. Não eram os poderosos nem os influentes, mas os simples e fiéis que mantinham viva a chama da fé. Entre eles, a Escritura recorda mulheres santas — Sara, Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester — que sustentaram o povo na confiança e na oração. Em todas essas figuras se antecipa o modelo perfeito da fé: Maria, a mulher que acreditou na promessa e acolheu em si o Salvador, tornando-se o ponto culminante da história de Israel e o início da nova criação.

O agir de Deus, portanto, é progressivo e paciente. Ele educa, corrige e renova. A formação do povo de Deus não se limita ao passado: continua hoje, na Igreja, que é o novo Israel, chamado a viver a Aliança definitiva em Cristo e a manter acesa a esperança até a plenitude do Reino.

Para refletir

  • Percebo Deus formando o seu povo também em minha própria história?
  • Como posso viver, no cotidiano, essa Aliança gravada no coração?
  • Em que aspectos a fé e a esperança de Maria inspiram a minha caminhada cristã?

Para meditar na Palavra

  • Êxodo 19,5-6: “Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis a minha propriedade particular entre todos os povos.”
  • Jeremias 31,31-33: “Farei uma aliança nova… Gravarei a minha lei no seu coração.”
  • Lucas 1,38: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Oração

Senhor Deus, que conduziste o teu povo desde os patriarcas até a plenitude da promessa em Cristo, ensina-nos a reconhecer a tua mão em nossa história. Dá-nos um coração dócil à tua Palavra e fiel à Aliança que selaste conosco no Batismo. Que, a exemplo de Maria, saibamos escutar, acreditar e cooperar com o teu plano de amor, sendo hoje sinais vivos do povo que continua sendo formado por Ti. Amém.

Baseado no Catecismo da Igreja Católica, nºs 62 e 64. Theophilus — “amigos de Deus, reunidos na Palavra”.

CULTURA: Samuel e Saul na arte cristã - 1Sm 9

Resumo

Samuel e Saul – 1Sm 9–10

Contexto bíblico: O capítulo 9 do Primeiro Livro de Samuel narra o chamado e a unção de Saul como o primeiro rei de Israel. Até então, o povo era guiado por juízes e profetas, sendo Samuel o porta-voz de Deus. O desejo dos israelitas de ter um rei “como as outras nações” (1Sm 8,5) leva Samuel, sob ordem divina, a ungir Saul.

Saul e as jumentas de seu pai

Saul, descrito como um homem alto e de boa aparência, é enviado por seu pai, Quis, para procurar jumentas perdidas. Esse acontecimento aparentemente simples se torna o meio pelo qual Deus conduz Saul ao encontro de Samuel. A busca comum se transforma em um encontro providencial, revelando que Deus age por meio dos acontecimentos cotidianos para cumprir seus desígnios maiores.

O encontro e o banquete sagrado

Deus já havia preparado Samuel para a chegada de Saul. Quando se encontram, o profeta o acolhe e o convida para um banquete no santuário, reservando-lhe o lugar de honra e a melhor porção da refeição — símbolo da escolha e da bênção divina. Esse gesto expressa comunhão e missão: enquanto Saul pensa nas jumentas, Deus já o prepara para governar o povo.

A unção real

No capítulo seguinte (1Sm 10,1), Samuel unge Saul com óleo, dizendo: “Este é o sinal de que Iahweh te ungiu como chefe da sua herança.” A unção, sinal visível da graça, representa a consagração e o envio do escolhido para servir ao povo de Deus. Assim como o óleo simboliza a presença do Espírito, o gesto de Samuel manifesta o poder de Deus que transforma o comum em vocação.

Na arte cristã

Embora pouco representada na pintura clássica, a unção de Saul inspirou artistas como Julius Schnorr von Carolsfeld no século XIX, que retratou a cena com simplicidade e luz simbólica. O contraste entre Samuel em autoridade profética e Saul em humilde inclinação revela o mistério da escolha divina: Deus exalta o que é pequeno e chama quem não se considera digno. Outras representações, como as ilustrações medievais da Bíblia de Winchester e da Bíblia Ilustrada de Morgan, destacam o encontro entre profeta e rei sob a luz da providência divina.

Mensagem espiritual

A trajetória de Saul mostra que Deus conduz cada detalhe da história humana. Nenhum acontecimento é casual; tudo pode ser instrumento da graça. O convite do texto e da arte é à confiança: mesmo quando não compreendemos o caminho, Deus age silenciosamente para realizar sua promessa. Assim como Saul foi ungido para servir, cada cristão, pelo batismo, é chamado a ser sinal vivo do Espírito de Deus no mundo.

Texto: Euclides Varella Filho
Theophilus – Grupo de Estudos Bíblicos Católico

1 Samuel – Semana 15

1 Samuel – Semana 15

Nesta 15ª semana, a Escritura nos conduz do homem segundo o coração humano ao homem segundo o coração de Deus.

Cercado por guerras Saul e preso ao próprio medo (cf. 1Sm 14,52), Saul falhará na obediência que sustenta a justiça divina. Em Amalec, a desobediência de Saul encerra um ciclo: o rei que deveria ouvir prefere oferecer, e Samuel ergue a palavra que corta mais fundo que espada — “melhor é obedecer do que sacrificar”. Na queda do primeiro rei, Deus abre espaço para um coração oculto em Belém — sensível ao Espírito, não à aparência (cf. 1Sm 15–16). É o tempo em que a alma do futuro rei começará a aprender o clamor dos justos:

“Julgai-me, Senhor, segundo a minha justiça e segundo a integridade que há em mim.”

cf. Sl 7,9b

Assim o Altíssimo molda o coração que Ele próprio escolheu.

Enquanto o Espírito age em Belém, o vale de Elá se tornará palco onde a coragem perdida renascerá nas mãos de um jovem pastor: Davi, pequeno aos olhos humanos, enfrentará o gigante e despertará, com sua vitória, a inveja oculta no palácio. O cântico que deveria celebrar a libertação se tornará sinal de conflito, mas o filho de Jessé sustentará a confiança dos humildes:

“O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem temerei?”

cf. Sl 27,1

Assim se iniciará a jornada daquele que será rei segundo o coração de Deus — um caminho guiado pelo Altíssimo desde o olhar firme de quem ainda não conhecia o medo (cf. 1Sm 17).

Tão logo o pó da batalha repousa sobre o vale de Elá, o nome de Davi começará a atravessar Israel como um vento que anuncia mudança. Da planície à corte, sua vitória deslocará destinos: inicia-se a queda de um rei que teme perder o que já não lhe pertence e a ascensão de um jovem que nunca desejou erguer-se (cf. 1Sm 18). Quando o palácio se tenciona entre o que Deus concede e o que o homem se apega a reter, brota, no íntimo do ungido, a súplica que sustém os que confiam:

“Em vossas mãos entrego o meu espírito; vós me resgatastes, Senhor, Deus fiel.”

cf. Sl 31,6

Entre os escombros da ruptura, nasce um pacto que nenhum trono governa: Jônatas apenas reconhece em Davi o que o Altíssimo já havia selado. Inicia-se então o tempo das lanças, dos acordos ocultos e da fuga sustentada pela fidelidade (cf. 1Sm 19–20). E, passo após passo, a alma do filho de Jessé entra no caminho dos perseguidos, onde ressoa a promessa:

“O Senhor está perto dos corações quebrantados e salva os de espírito abatido.”

cf. Sl 34,19

A marcha de Davi começa em Nob, onde o pão sagrado e a espada recebida sustentarão aquele que caminha entregue ao mistério do próprio destino. Em Gabaá, a perseguição ganhará forma: Saul avança, e o jovem fugitivo aprende a mover-se entre astúcia e silêncio. A terra então geme sob a injustiça: Nob é ferida pelo rei, mas a fé continua a guardar a vida de Davi (cf. 1Sm 21–22). Diante da violência que prospera, o perseguido erguerá sua voz e denunciará o poder que se gloria no mal, lembrando que a misericórdia de Deus não se desfaz (cf. Sl 52,3).

No deserto de Adolam, homens se juntarão a ele, e o exílio se transformará em comunidade, enquanto o rei o persegue incansavelmente (cf. 1Sm 23). E nas cavernas ressoará a oração dos escondidos:

“Tem piedade de mim, ó Deus, pois em vós se abriga a minha alma… No esconderijo de vossas asas busco refúgio.”

cf. Sl 56,2

Quando Saul é entregue nas mãos de Davi, a vingança parece ao alcance, mas o fugitivo recusa ferir o ungido do Senhor — lembrando que o trono é graça, não conquista (cf. 1Sm 24). E assim, ao escolher a paz em meio às flechas, seu coração ecoa o lamento antigo:

“Ai de mim, que habito em Masec e nas tendas de Cedar… Sou pela paz, mas quando falo, eles são pela guerra.”

cf. Sl 120,5-6

No curso dos destinos, quando a sombra de Saul cede à misericórdia de Davi, surgem novas provas: o confronto de Nabal e a coragem de Abigail mostrarão que a justiça e a prudência são forças silenciosas guiadas pelo Altíssimo (cf. 1Sm 25). E Davi aprenderá que só o Senhor firma o caminho contra a violência humana:

“Guardai-me dos que tramam o mal no coração.”

cf. Sl 140,2-3

Mesmo quando a paz pousa sobre os desertos, a perseguição insiste em seguir seus passos. Saul avançará sob o peso do ciúme, sem perceber a mão do Altíssimo que resguarda Davi. Na noite velada, o ungido demonstrará que a misericórdia é a verdadeira coroa (cf. 1Sm 26). E ali, na escuridão orante, sobe o clamor dos fiéis:

“Com minha voz clamo ao Senhor… derramo diante dele minha queixa.”

cf. Sl 142,2-3

Perseguido sem trégua, Davi cruza fronteiras e encontra em Ziclague um refúgio moldado pela astúcia e pela graça do Altíssimo. Ali, sua diplomacia sustenta o que a espada não resolve: protege seu povo, guarda sua honra e mantém firme a lealdade dos seus. Entre estratégia e exílio, Aquis confia, enquanto a providência conduz cada passo (cf. 1Sm 27). E, como quem atravessa a noite com o coração aceso, Davi clama:

“Senhor, a ti eu clamo; vem depressa em meu auxílio.”

cf. Sl 141,1

E assim, entre clamor e espera, o Altíssimo abre o caminho adiante.

Eis, aí, o Deus da Unção!

Ficou com alguma dúvida?

Nos diga abaixo que iremos te responder em nosso próximo encontro ou em nossa página de DÚVIDAS (clique aqui)

Exemplo: Encontro de Domingo - Gênesis 38-50