Rute e 1 Samuel – Semana 14
Nesta 14ª semana, a Escritura revela que, entre quedas e esperanças, Israel anseia o coração de Deus, berço da verdadeira realeza.
Após duas décadas de juízo, o juiz envelhece; o herói que ergueu portas e derrubou exércitos atravessa as planícies de Judá e alcança Gaza, cidade-sentinela da opressão. Em Dalila, a confiança se torna armadilha, e o coração vacila entre afeto e ruína, esquecendo Aquele que lhe dera força. Preso, ferido e humilhado, ergue os olhos em oração, e na última centelha de poder derruba o templo de Dagom, fazendo da sua queda juízo sobre os filisteus e redenção para Israel (cf. Jz 16).
Quando o herói cai, Israel cai com ele: sem guia, cada tribo segue seu caminho, cada casa ergue seu altar. Em Efraim, bênção e maldição se confundem; um filho esculpe ídolos, um levita vende o sacerdócio. Entre o túmulo de Sansão e o ídolo de Mica, Dã, sem herança, toma território, sacerdote e ídolos, e a idolatria se espalha da casa de um homem para contaminar toda a tribo (cf. Jz 17–18).
Por estradas desertas, um levita busca pouso e encontra a noite mais sombria de Israel. Em Gabaá, a hospitalidade se faz ferida; a concubina devorada revela o coração de um povo sem rei. Seu corpo repartido convoca as tribos, e Israel desperta para a guerra contra si mesmo. Em Mizpá, colhe o fruto amargo: jura, combate e chora, descobrindo que a discórdia entre irmãos deixa feridas que nenhum voto cura. Ao fim, permanece apenas um povo sem rei, guiado pelo que julgava certo aos próprios olhos (cf. Jz 19–21).
Enquanto Israel se perde, Deus prepara um retorno. Em Belém, Noemi volta, Rute permanece e Boaz acolhe (cf. Rt 1–4) — e uma criança reacenderá a esperança que avançará até Silo, onde Ana transformará lágrimas em oração e o Altíssimo iniciará um tempo novo: nasce Samuel, primeiro clarão da renovação (cf. 1Sm 1–3).
Ele crescerá, conduzirá Israel à aliança renovada e à vitória pela fé (cf. 1Sm 4–7). Mas o povo permanece com o coração inquieto e pede um rei que marche à frente: e eis que surge Saul, filho de Quis — belo, valente e escolhido entre os homens de Israel, ungido por Samuel segundo o desígnio do Altíssimo (cf. 1Sm 8–10).
Então despontarão os primeiros sinais: a vitória sobre Amon em Jabes (cf. 1Sm 11), o discurso luminoso e severo de Samuel em Gilgal (cf. 1Sm 12), a ousadia de Jônatas contra os filisteus e a instabilidade de Saul, que se deixa levar pela pressa. E nesse compasso incerto, Saul combate sem escutar; Jônatas vence sem ser ouvido e Israel seguirá sob o peso das guerras que atravessarão todo o reinado, até o seu fim (cf. 1Sm 13–14). E assim começa a monarquia em Israel.
Eis, aí, o Deus do Recomeço.
































































